Às vezes, quando busco imagens de minha infância, encontro apenas algumas passagens tão rápidas quanto um
flash. Não consigo me lembrar do primeiro dia na minha escola, mas duas remotas lembranças acompanham-me até hoje.
Lembro-me de um final vespertino, esperando minha companhia (acho que era minha "tia" que possivelmente era minha vizinha também) no terraço da escola para poder ir para casa. Enquanto ela despachava os outros colegas, uma agitação na rua em frente se deu: era um "doido" jogando pedras nas pessoas que o insultavam, assim me falou o namorado dela. Eu tentava fechar a grade, eles riam.
- Está tudo bem, ele vai embora. - Disse ele.
Deve ter ido, pois não me lembro de mais nada sobre esse ocorrido.
Outro
flash recorda-me as vezes em que chegava em casa com "rochas", como conta minha mainha, de tantos chutes nas canelas que levava dos coleguinhas. Que menino mole! Não sei bem o porquê, mas um belo dia, essa moleza passou... Com o "cão no couro", insultei, inflamei, aticei, provoquei: lápis voaram de uma sala para outra por cima das paredes, caderninhos foram jogados no chão. Então, na mesinha quadrada do jardim da infância, onde quatro anjinhos compartilhavam os primeiros saberes, meu carrasco tentou revidar me chutando por baixo da mesa, pra quê?! Ao levantar-se, fora golpeado por um cruzado certeiro de direita em sua venta. Uma explosão sanguínea ocorreu, parecia uma cachoeira! Acho que foi a primeira vez que vi sangue. Bem, a partir daí, estou na frente da turma, numa espécie de palco, recebendo o castigo para aprender a ter bons modos. Ora, claro! Depois de apanhar tanto, senti certo orgulho no olhar da minha "tia", ela tinha pena de mim. Por não lembrar mais, concluo que foi a última vez, pelo menos nessa escola. Contudo, essa moleza perdurou durante um bom tempo, mas isso é outra estória.
Hoje, mais de três décadas se passaram, esses poucos
flashes perturbam-me mais uma vez. Isto porque hoje tive o prazer, a felicidade de levar minha princesa para o primeiro dia de aula em sua escola. Tudo bem, desde os 4 meses de vida ela é cuidada por babás em creches. Contudo, isso não tirou nossa emoção em ver aquele pingo de gente, tão desejado, tão amado, vestindo sua primeira farda, seu primeiro par tênis preto, sua primeira bolsa personalizada, seu primeiro livro. Ah, todo aquele material escolar. Filmagens, fotos, sorrisos... Que maravilha!
Desejo que as lembranças de sua infância, desde sua escolinha, sejam grandiosas! Não apenas flashes, mas filmes inteiros, todos merecedores de um Oscar. Que sejam repletas de sons, de cores, de alegria. Alegria igual a essa que vivo hoje, porque você está aqui, comigo. Dois anos e cinco meses maravilhosos!
Amo "soçê", Marcelle Sophia.
Ah! Amanhã tem aula de novo.